quinta-feira, novembro 30, 2006

Ando muito contente / Com minha boa gente

ultimamente
há muita gente
a conseguir realizar alguns dos meus sonhos antigos:
um cd de poesia
e na fnac um recital
(ideias que este grande idiota
terá tentado já bulcanizar)
um programa de rádio
poético-marado
que o jorge feliciano espera fazer mas lá em moura
e poesiolímpica mas sem piscina

(qué uma coisássim quase c'alexandrina)

fico contente
com tanta gente
que vejo labutar em prol da poesia
fico estridente
evidente-
mente
e
até já segredei cá ao gallo affonso:

ena pá
ó affonso
agoréquevaiser!


António Vitorino

terça-feira, novembro 28, 2006

SE OS TUBARÕES FOSSEM HOMENS


Depois do Alentejo, o Teatro Fórum de Moura irá representar em digressão o seu primeiro trabalho. Trata-se de Se Os Tubarões Fossem Homens de Jorge Feliciano que irá estar dia 3 (16h) no Auditório do Mercado de Fernão Ferro (Festival de Teatro do Seixal), dia 7 (21h30) na Casa Amarela (Laranjeiro) e dias 8, 9 e 10 de Dezembro (sempre às 21h30 e no dia 10 também às 16h) no Teatro Extremo em Almada Velha.
As actuações na Casa Amarela e Teatro Extremo serão únicas pois terão também como motivo de alto interesse a colaboração dos LA DUPLA & D.J. x-ACTO no fluir do espectáculo. Este agrupamento tem vindo a destacar-se na cena musical da Grande Lisboa pelo seu rap incisivo disparado pelos MC´s Espanhol e Nessa, numa mistura de voz masculina e feminina onde se fundem duas línguas ibéricas, o Português e o Castelhano.
No dia 8, à noite, a seguir ao teatro, teremos também um recital de Poesia Olímpica sem Piscina, no bar do Teatro Extremo. Com Jorge Feliciano, Andreia Egas, Eunice Martins, Vera Monteiro e, muito provavelmente, António Vitorino. Mais informações em breve neste blog e em Debaixo do Bulcão poezine.

Vejam lá se não é assim:

participar num recital de poesia
é como andar na montanha russa
(sim que eu sou do tempo em que os divertimentos de feira se resumiam quase só à montanha russa, portanto, etc):
muito giro muito giro
até ao princípio da primeira descida a pique
aí borramo-nos de medo
mas já não há volta a dar
e temos mesmo de ir até ao fim.


António Vitorino

Props: Andreia Egas, Jorge Feliciano, Vera Mateus e todos os que tornaram possível a Poesia Olímpica Sem Piscina, no Recluso Bar, em Moura

segunda-feira, novembro 27, 2006

(no dia da morte de Mário Cesariny)

nunca se esqueçam:

os poetas morrem
mas
a poesia fica

é evidente

mas mesmo assim
e por isso mesmo
não se esqueçam

terça-feira, novembro 21, 2006

ARRRAÇA

(entre as várias opções que tínhamos
optámos pela seguinte)

bem. sejamos do género
do género que nos fica bem
do género que engole a sopárrrir
come a carne e come o peixe também
come tudo tudo tudo
come o pai e come a mãe
come tudo sem colher

chega a casa e dá porrada na mulher.


António Vitorino

domingo, novembro 19, 2006

Um Tipo, Tipo Capaz

capaz de comer um churro
capaz de montar um burro
capaz de moldar um barro
capaz de acender um charro
capaz de cuspir no chão
capaz de morder a mão
capaz de catar macacos
capaz de matar diabos
capaz de engatar garinas
capaz de cavar nas minas
capaz de cravar uns trocos
capaz de capar uns porcos
capaz de roubar uns carros
capaz de enganar uns parvos
rapaz dado à brejeirice
capaz de tudo o que disse
capaz de tudo o que fez
capataz da estupidez.


António Vitorino
(Abril 2004)

quinta-feira, novembro 16, 2006

Vem aí mais um Bulcão


É este
(grafismo de Jorge Feliciano)

Poema com muita lógica

quando um gajo se senta frente a uma folha branca de papel
esta obviamente a sofrer de um ai maligno.

quando um gajo se senta e saca da caneta
para sujar a folha que era branca de papel
está ainda mais obviamente a espremer
o pus dessa infecção que a humanidade dispensava
e a que autocomiseradamente o gajo chama literatura.

assim, se não morrer da doença
pode ser que também não morra da cura

até porque este gajo lembra-se de um outro que
quinze minutos antes de morrer ainda estava vivo

e só por esse feito valoroso
da lei da morte lá se foi safando.


António Vitorino
(Maio 2003)

terça-feira, novembro 14, 2006

A PERCEPÇÃO DA REALIDADE ou discurso do pré-socrático

uma coisa é o que é
o que é é, o que não é não é
a é a
uma coisa é igual a si mesma

logo

uma coisa não é o que não é
o que não é não é, o que é é
b não é a
uma coisa não é igual a outra coisa

ludere me putas?


Joãozito Seabra

domingo, novembro 12, 2006

Como Azedar um Poema

"a cidade amanheceu cinzenta" escreve um poeta
que só escreve (pouco) aos domingos
quando esse dia por estúpida coincidência é a sua folga semanal.
"depois o sol lá resolveu espreitar por entre as nuvens"
o que (importa dizer-se) não aconteceu com a inspiração do poeta
por isso saiu de casa fechou a porta à chave
foi ao café beber mais um café.
"o sol agora queima" no guardanapo de papel
e "torna tórridos os símbolos e o pensamento"
no guardanapo de papel.

quando chegou a casa sentiu logo o cheiro do poema
que azedara.



António Vitorino
(Maio 2003)

Não se goza com a goza

o meu camagada e amigo magtins gamalho avisou-me:
cuidado ó vitogino! com a goza não se goza!
olha que o sócgates não é o alegge
nem o joão soagues (o soagues até é fixe
quando tegmina os discugsos dizendo
viva pogtugal camagadas!). olha que o sócgates
quando em 2000 uma jognalista lhe pegguntou
se a seca que então se vivia podia compgometeg
o enchimento da bagagem do alqueva
o gajo (que ega ministgo do aombiente) nem pestanejou
pegante o guidículo da peggunta
e um gajo sem a noção do guidículo
é um gajo peguigoso, avisou-me
o meu camagada e amigo magtins gamalho.

ps: eu sigo o seu conselho avisado
e recuso-me a escrever sobre o c0ngresso do ps.



António Vitorino

sexta-feira, novembro 10, 2006

Greve? Qual greve?

acordei de manhã e a televisão estava a funcionar.
fui à janela e vi passar um carro eléctrico.
fui ao café e serviram-me um café.
fui comprar pão e havia pão.
apanhei um autocarro porque havia autocarros.
à hora em ponto estava no ponto
para não me juntar aos 11,74 por cento que (números do governo)
se baldaram vergonhosamente ao trabalho na minha repartição.
qual greve?


Daniel Urtigas

quinta-feira, novembro 09, 2006

Meditação de um funcionário público não informatizado em directo num programa da manhã da TVI

às vezes penso que a solução para a minha vida
seria desistir agora a meio, arquivá-la
numa pasta de arquivo morto e abrir
a segunda gaveta do lado direito a contar de cima
de onde tiraria uma outra vida essa novinha em folha
como um formulário ainda por preencher.
às vezes penso estas coisas
mas o pensamento é tão concreto tão vago tão banal
e tão absurdo
que logo o arquivo na pasta dos pensamentos mortos
e desisto de pensar.


António Vitorino

quarta-feira, novembro 08, 2006

Homenagem à Alternância Democrática

1.

um congressista dos burros eleito sei lá pelo tennessee
prometeu-me não esquecer de prometer
mais álcool e tabaco para as nossas tropas no iraque.
(calma. não chega para todos. para os outros
mantemos a mesma dose de álcool
e a mesma dose de tabaco)
prometeu.

logo logo ripostou um elefante:
às nossas tropas no iraque tudo tudo
(e às outras também tudo também tudo)
mas o que nós aqui queremos é mais bucha
mais motores generais
e menos conversa.


2.

acho bem diz o adolfo. e por falar em coisas sérias
(diz adolfo) desta vez ganha o cena ou ganha o edge?
eu cá gosto mais do cena (diz a cinha)
eu curto mais do edge (afirma fáfá).
está bem estão empatadas
mas não faz mal (conclui adolfo) porque afinal
afinal isto era tudo só a brincar
e ainda é.


António Vitorino

QUE HORROR, UM SANDINISTA!

já não me bastavam as lulas
e os chaves
e os morais
e aquele gajo lá de cuba que não morre
e nunca mais cai
e sei lá o que há-de vir ainda mais
agora chega este que se chama daniel
e que eu bem gostava de poder mandar às
urtigas
(perceberam a piada?)

estou mui malferido de tragédias
existenciais

e aparecem-me estes gajos a incomodar com coisas
tipo a realidade
e a justiça social

irra que é demais!


Daniel Urtiga

terça-feira, novembro 07, 2006

Hoje o poeta não vai sair de casa

anda por aí tudo feito num virote
diz a senhoria do poeta ao poeta que lhe paga 30 contos
de aluguer de um quarto. uma frase assim não tem descontos
pensa o poeta (que além disso também pensa que é quase o dom quixote).

e a senhoria tem razão: lá fora o vento bate forte
nos transeuntes que só por causa disso andam tontos:
o vento é mais astuto: não os derruba mas bate-os aos pontos.
felizmente agora não há moscas: no verão não sei quem as enxote

isto pensou o poeta muito atento à sua simbologia
do vento forte e dos moinhos que com ele se movem.
depois pensa que talvez se fosse mosca poderia entrar na fria

realidade da sua dulcineia cujos suspiros encobrem
outra secreta paixão. por isso mesmo há quem (lá fora) ria
do quixotesco poeta e dos versos que o envolvem.

António Vitorino, Outubro 2003

PREVISÃO METEOROLÓGICA DE MESA seguida de masturbação

ping
água

pong
bátega

ping
água

pong
bátega

ping
água

pong
bate-a


António Vitorino, Abril 2004
(obviamente, dedicado a São Feliciano)

segunda-feira, novembro 06, 2006

Ich Bin Ein Iraquiano

eu sou um escarro de polvo
tu és o escárnio do povo
(discurso de ibn salamaleikun
- nome fictício, para proteger a nossa fonte -
enquanto tentava derrubar à cabeçada
mais uma estátua do grande timoneiro
do sério encantador que terá encantado sinbad o marinheiro
do apócrifo apocalíptico génio da lâmpada eléctrica
daquele que lá se babava enquanto dava de comer aos quarenta ladrões
daquele que se pudera axadrezara xerazade
e abocanharia nabucodonosor o grande rei da babilónia
e que por ser herói e erudito
retiraria a côdea do pão codificado de hamurábi
para dar ao verdadeiro povo eleito
o coiro e a carcaça do corão
a caspa e a casta do autêntico profeta
o coro e o coral da vera kalashnikov aliás ak47.
mas para sermos mais rigorosos ibn salamaleikun
bebe vinho come porco e fuma ópio
e em pequeno sofreu um ataque de asma
sarin antrax varíola e gás mostarda
que aliás é o único condimento que ele põe
por baixo e por cima dos hamburguers do mac donalds
- que a paz do verdadeiro deus seja com ele
pois - afirma a gente ímpia - é só dos pobres de espírito
a mais certa reservation para esse reino dos céus
que talvez já não seja o antigo jardim do éden
mas é sem qualquer dúvida um paraíso novo
chamado the land of the brave and the home of the free.)

António Vitorino
(Publicado no Debaixo do Bulcão nº22, Julho 2003)

Nada de Novo

quase sempre que penso naquilo que tenho para dizer ao mundo
chego à conclusão que não tenho nada de meu
ou de novo para dizer ao mundo.
mas eu não sei se isto que digo é verdade
ou se é apenas consequência de ter bebido muita cerveja
(coisa a que já não estou habituado ah ah ah) esta tarde
e assim ter adiado mais uma vez
algo que já devia ter feito há muito tempo
e que esta manhã decidi fazer esta noite
mas não consegui porque esta tarde bebi demasiada cerveja
coisa que (ah ah) já não
e cheguei a casa bêbado.
também não sei se tudo isso aconteceu por acidente
ou se eu (ah) mais uma vez quis adiar
inconscientemente
aquilo que já deveria ter feito há muito tempo.
o que sei é que de facto isto não é nada que interesse
dizer ao mundo.

mas vocês também não são o mundo.

António Vitorino
(publicado no Debaixo do Bulcão nº26, Junho 2004)